Real domina a Europa depois de doze anos de espera

Sofrimento, empate no último lance e prorrogação avassaladora fizeram parte da conquista da “La Décima”

João Victor Belline

O capitão Casillas levanta a décima tacado Real Madrid na Champions. (Foto: AFP)

O capitão Casillas levanta a décima tacado Real Madrid na Champions. (Foto: AFP)

Lisboa parou neste sábado para receber a decisão da Liga dos Campeões da UEFA. E nada melhor do que uma rivalidade histórica para apimentar a mais importante final do velho continente. Mas a brilhante temporada do Atlético de Madrid não foi o bastante para vencer seu arqui-rival Real. Numa partida emocionante, o Real Madrid venceu o Atlético por 4 a 1 na prorrogação e conquistou a Europa pela décima vez na sua história.

O jogo antes do jogo

Durante toda a semana, e até mesmo antes dela, muito se especulou sobre as possíveis ausências em ambos os times para a decisão. Do lado do Real Madrid, Pepe e Benzema não treinaram normalmente durante a semana e preocupavam. A única certeza era que Xabi Alonso, suspenso, não jogaria. Já no Atlético, Arda Turan e Diego Costa saíram lesionados do confronto contra o Barcelona, válido pela última rodada do Campeonato Espanhol. Ambos tiveram programações especiais durante os treinos preparatórios.

Escalações e suas conseqüências

O milagroso tratamento à base de placenta de égua não funcionou para Diego Costa. (Foto: Getty Images)

O milagroso tratamento à base de placenta de égua não funcionou para Diego Costa. (Foto: Getty Images)

O Real Madrid entrou em campo sem Pepe. Ficou com Varane o posto de titular na zaga merengue. Para o lugar no meio campo, o escolhido foi Khedira, ainda retornando de lesão. Na lateral esquerda, Fábio Coentrão foi mantido mesmo com Marcelo em forma. Na prática, Varane não foi um leão como Pepe, mas cumpriu seu papel. Coentrão e Khedira não comprometeram, mas deixaram a desejar principalmente se comparados aos jogadores que substituíram.

Diego Simeone optou nem relacionar Arda Turan e manter Diego Costa no time titular. Escolha certa ou não, ela deu errado. Com apenas nove minutos jogados, o hispano-brasileiro deixou o gramado para a entrada de Adrián. Mesmo aguerrido e organizado, principais marcas do Atlético de Madrid na temporada, a sensação era de que faltava algo. Faltava Diego Costa, um guerreiro na frente que entrega a alma no campo, e Turan, o jogador que traz o drible, a jogada diferente, e que articula técnica e taticamente o meio campo colchonero.

Primeiro tempo encardido, com a cara dos Atleti

O começo da partida evidenciou dois times que se conhecem e que se respeitaram muito. Mesmo dividindo todas as bolas, as equipes pouco criaram no primeiro tempo. Tanto é que, até os 35 minutos, apenas o Real tinha finalizado de fato, com uma boa chance perdida por Bale e uma cobrança de falta de Cristiano Ronaldo. De resto, tentativas de cruzamentos e cabeceios tortos que não incomodaram o goleiro Courtois. Mas esse tipo de jogo, se não agrada ao Real, ajudou muitas vezes o Atlético. Depois de cobrança de escanteio, a bola é afastada pela zaga madrilenha, Juanfran retorna a redonda na área, Casillas sai mal do gol e Godín completa de cabeça. Na primeira chance real, o Atlético sai na frente.

O segundo tempo começou de fato aos 60 minutos

Preterido no início da partida, Marcelo mudou o jogo, marcou seu gol e mostrou muita emoção ao dar a volta por cima. (Foto: Reuters)

Preterido no início da partida, Marcelo mudou o jogo, marcou seu gol e mostrou muita emoção ao dar a volta por cima. (Foto: Reuters)

Precisando do resultado, o Real Madrid voltou melhor na segunda etapa. Ainda assim, nada que colocasse em risco a vantagem colchonera. Tanto é que, nos primeiros quinze minutos da segunda etapa, a melhor chance foi do Atlético, com Adrián. Então entrou em cena Carlo Ancelotti. Ou melhor, entraram em cena Isco e Marcelo, saindo Khedira e Coentrão. O lateral brasileiro tomou conta do lado esquerdo junto a Di María, enquanto Cristiano Ronaldo centralizava mais seu jogo. Isco articulou com Modrić e deu mais leveza ao meio campo. Não foram exatamente essas mudanças que trouxeram o gol de empate, mas foi assim que o Atlético foi dominado em campo. Mesmo com mais posse faltava o ímpeto, a bola não entrava e nem estava perto disso. No último suspiro, aos 48 minutos, cruzamento de Modrić e Sergio Ramos cabeceia no canto esquerdo para manter as esperanças merengues vivas.

Outro jogo na prorrogação

Uma palavra define a prorrogação para o Atlético de Madrid: desgaste. O esgotamento foi físico e mental. E o time foi heróico segurando o adversário até os 110 minutos jogados, mesmo com jogadores como Juanfran e Adrián visivelmente mancando. Mas se faltavam pernas para os alvirrubros elas estavam sobrando para Ángel Di María. O incansável argentino enfileirou dois defensores e parou em Courtois. Na sobra, Bale cabeceou para o gol e colocou o Real à frente. Ainda sobrou tempo para, dois minutos depois, Marcelo marcar e mostrar que Coentrão não foi a melhor escolha de Ancelotti. Mas a festa não poderia estar completa sem ele. No último minuto da partida, Cristiano Ronaldo converteu pênalti sofrido por ele mesmo e deu números finais à partida, 4 a 1.

Guardem suas cifras, o cara sou eu!

Jogador mais regular durante toda a temporada, Di María foi a válvula de escape do Real pela esquerda. (Foto: AFP)

Jogador mais regular durante toda a temporada, Di María foi a válvula de escape do Real pela esquerda. (Foto: AFP)

Muito se esperava das principais estrelas em campo. No Atlético, Turan nem entrou e Diego Costa mal sujou a chuteira. No Real, Cristiano Ronaldo e Bale, mesmo tendo marcado cada um seu gol, não foram nem a sombra dos jogadores que são e foram ao longo da temporada. Mas um jogador mostrou, mais uma vez, toda sua regularidade e dedicação física e tática, Ángel Di María. O meia argentino não é mais apenas um ponta venenoso como se pode encontrar aos montes em terras brasileiras. Com Ancelotti, Di María aprendeu a marcar, a ser tático e, principalmente, a jogar bola verticalmente. O camisa 22 do Real Madrid recebeu o prêmio de melhor em campo e demonstrar que é um dos grandes nomes para a Copa do Mundo.

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